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Norman Rockwell é uma das minhas paixões. Não apenas pelo traço, pelas cores, pela qualidade estética, mas principalmente porque ele me lembra um passado, não tão distante, em que parecia haver uma certa pureza e inocência. E eu tenho saudade desse tempo.

Alguns dirão que é um retrocesso (palavra tão usada hoje simplesmente para designar coisas com as quais as pessoas não concordam) ou saudosismo puro e simples. “Coisa da idade”, dirão alguns. Não me importo. Apenas sei que adoro Norman Rockwell e que ele desperta em mim uma grande saudade. Até de coisas que nem vivi.

Voltando ao Rockwell… A beleza do traço dele é inegável. É preciso, puro, fiel à realidade, detalhista, perfeccionista. As cores são belíssimas, sempre transmitindo uma sensação de familiaridade, aconchego, proximidade. Mas o que torna Norman Rockwell tão especial é sua capacidade de captar o espírito de um tempo e de um país, com tanta qualidade estética.

Preste atenção às cenas em família, às atitudes e expressões dos rostos, à ingenuidade das “artes” infantis, à seriedade tranquila nos rostos de gente no trabalho, à sensação de liberdade aliada à de segurança, força e certeza de um presente bom e um futuro certo. E por trás de tudo isso, nunca falta a valorização da própria história, dos valores, das tradições e do respeito a elas e também às outras pessoas. Percebemos ali um passado que não deve ser esquecido, para que o presente seja feliz e o futuro esteja garantido.

Norman Rockwell nasceu em 3 de fevereiro de 1894 em Nova York e morreu aos 84 anos Stockbridge, Massachusetts, no dia 8 de novembro de 1978. Seus primeiros trabalhos profissionais foram publicados pela Boys’ Life, a revista da Boy Scouts of America (BSA), os escoteiros americanos, para a qual continuou fazendo trabalhos esporádicos e desenhando o calendário anual ao longo de sua vida.

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Seu contrato mais longo e famoso foi com a revista Saturday Evening Post, a mais lida daquela época, para a qual fez capas históricas, mas contribuiu para muitas revistas na época como a Look, Literary Digest e outras. Rockwell também ilustrou vários livros, entre eles Tom Sawyer e Huckleberry Finn, pintou retratos para presidentes como Eisenhower, Kennedy, Johnson, Nixon e políticos estrangeiros, desenhou para campanhas publicitárias, numa vida profissional extremamente rica e prolífica.

Rockwell engajou-se na campanha contra o preconceito racial nos anos 60, para a qual produziu um de seus desenhos mais famosos, no qual retrata Ruby Bridges, a menina negra de Louisianna, que foi a primeira a ingressar numa escola de brancos.

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Com uma vida profissional marcante, Rockwell recebeu diversos prêmios, e o maior deles, a Presidential Medal of Freedom, é a mais alta honraria que um civil pode receber do governo americano.

Sua obra foi exposta em diversos museus e na Casa Branca e seus trabalhos são vendidos em leilões por algumas dezenas de milhões de dólares, mas sempre foi esnobado por críticos de arte, que consideram seu trabalho “doce” demais para ser chamado de arte. Esses críticos modernos dizem que ele não passa de um ilustrador, definição que ele aceitava perfeitamente bem, pois também se definia profissionalmente como tal.

Há pouco tempo, fiz um post perguntando o que, exatamente, é arte moderna ou o que pode ser realmente considerado arte hoje em dia. Uma obra de Norman Rockwell não me sai da memória sempre que penso no assunto. Nela um senhor tradicionalmente bem vestido observa atentamente um quadro que nos remete ao Pollock. Ele está de costas para nós, mas eu consigo imaginar claramente sua expressão.

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Para fazer essa ilustração, que foi capa de uma Saturday Evening Post, Rockwell usou a mesma técnica de Jackson Pollock, pintando primeiro em uma tela esticada no chão de seu estúdio com os mesmos borrifos de tinta no estilo Pollock. O que você acha? É uma homenagem ou uma sátira? Claro que Rockwell nunca disse nada sobre isso, mas da para se ter uma idéia sabendo-se do que ele fez em seguida. Rockwell apresentou seu quadro “Pollock” em uma exposição, assinando com um nome italiano e ganhou o prêmio principal. Além desse prêmio, conseguiu também uma menção honrosa (sob pseudônimo) pelo mesmo quadro no Berkshire Museum, na cidade onde morava, Stockbridge, Massachussets. Não da para negar que ele tinha bom humor, não é?

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Independentemente da opinião dos críticos de arte, a verdade é que Norman Rockwell é considerado o grande artista do espírito americano e ele mesmo se definia como um contador de histórias através de seus traços. Se você, como eu, adora Rockwell ou se ainda não o conhecia e gostaria de ver mais obras dele, acesse os sites abaixo:

  • aqui você encontra as capas que Rockwell fez para a Saturday Evening Post e outras histórias sobre ele e seu trabalho;
  • aqui você vê exemplares das coleções de Steven Spielberg e George Lucas, grandes fãs de Rockwell;
  • e aqui o Museu Norman Rockwell, localizado em Stockbridge, Massachussets, cidade onde Rockwell morou durante os últimos 25 anos de sua vida.