Quem se lembra de pintar com crayons quando criança? Que criança não passa horas desenhando com eles e assim dando sossego aos pais em casa ou no restaurante? Ou será que eu estou sonhando e absolutamente todas elas só brincam com iPads e smartphones hoje em dia? Espero que não, sinceramente, pobres crianças! Mas elas não são o meu assunto.
Quero falar de crayons usados por um adulto de maneira aparentemente maluca, mas que de forma na verdade matemática, lógica e precisa, compõem quadros com paisagens, figuras e pessoas de uma beleza incrível. Eles não são usados para desenhar, mas para compor, um a um, lado a lado, o retrato escultural pensado pelo artista, Christian Faur.
Depois de passar por várias técnicas e materiais, Christian redescobre os crayons e diz que o cheiro da cera está intimamente ligado à sua arte, já que, além da encáustica, que é uma de suas técnicas e consiste no uso de pigmentos amalgamados em cera quente, sua memória mais antiga é de desenhar com crayons quando criança.
Christian Faur tinge e molda seu próprio material, criando uma infinidade de cores e tons, que vão compor seus quadros e lembram a técnica do pontilhismo de Georges Seurat ou Paul Signac, em que o objeto da obra é visto à distância e se perde com a aproximação, reduzindo-se a pontos. No caso de Faur, a pontas de crayons.
Para chegar ao resultado final, ele parte de fotografias que processa no computador para obter um “mapa” dos pixels, que serão as pontas dos crayons. O segredo da arte em seu trabalho, porém, é a composição das cores como meio de transmitir sentimentos e sensações, além de compor sombras, contornos e relevos.
Pensando na linguagem das cores, Faur inventou, inclusive, um alfabeto de cores, a partir do qual produziu uma série de trabalhos. Um deles é a “tradução” do último trabalho de Ludwig Wittgenstein, Remarks on Colour (Anotações sobre as Cores) para o seu alfabeto colorido.
Formado em física e matemática, Faur cria com racionalidade e lógica. Isso fica patente não apenas no seu trabalho atual, mas em outras séries que produziu, em várias outras técnicas e materiais, como papel, óleo, encáustica. Afinal, quem senão um matemático poderia reproduzir a Sequência de Fibonacci em quadros, ou fazer um retrato de ninguém menos do que Leonhard Euler, aquele da Constante de Euler?
Vale a pena conhecer o trabalho de Christian Faur. Assista o vídeo abaixo, onde ele monta ao vivo um de seus quadros.
Fotos: Christian Faur, Melissa Farlow, Mark LaFavor, Kim Foster Gallery, American Craft Council, The Ultralinx