Águas de março. Estou olhando pela minha janela neste fim de tarde que estava ensolarado até há pouco. Agora está negro, carregado, pesado. O vento forte começa a soprar, trazendo a sensação de que algo está para acontecer. As portas batem, os pratos pendurados nas paredes balançam. Hora de começar a esperar a tempestade, os raios e trovões e a enxurrada que vai descer a rua carregando a sujeira que encontrar pela frente e que entupirá bueiros. Hora de torcer para que nenhuma dessas árvores quase centenárias caia, causando prejuízo a alguém, falta de luz no bairro, trânsito parado. Hora de imaginar cenários de Jornal Nacional, tristes, trágicos e que parece que nunca aprenderemos a evitar.
Ao pensar no calor escaldante, é hora também de agradecer pelo refresco. E, mais importante ainda, ao pensar na escassez de água, na possibilidade de racionamento, é hora de agradecer mais ainda e de pedir mais, mais, mais. Estamos precisando de mais água, logo, por favor!
Nesses dias sempre me lembro de um cara que interpretava o Brasil como ninguém, um cara que amava o Brasil como poucos e que era tão genial, que compôs uma obra prima para falar exatamente disso tudo que falei acima, falar da água que cai nesta época, das águas de março, que caem para fechar o verão e começar um novo ciclo, a promessa de vida no teu coração. Ah, sim, em março parece que sempre podemos começar um novo ano, depois da festa do verão.
Viva o eterno Tom Jobim e suas Águas de Março!!!!